Cada um escolhe por qual janela olhar

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Percebi, então,

que cada plano é uma pequena prece ao Senhor Tempo, enquanto você mirava seus sapatos na UTI, que cheirava a coisas ruins. Controlei a respiração e disse a mim mesma que já havia suportado demais por hoje, enquanto cada batimento, que enfraquecia no LCD, me levava um pouquinho mais longe de você.
Entre as máquinas e as velhas revistas, num lugar onde só se dizem adeuses, por causa de um deslize violento nossas memórias dependem de uma câmera defeituosa em nossas mentes. Mas eu sabia que você era uma verdade que eu preferia perder do que nunca ter tido realmente ao meu lado. Você olhou ao redor, todos os olhos voltados para o chão enquanto a TV entretia a si mesma.
Porque não há conforto na sala de espera, só passos nervosos esperando por más notícias. E então a enfermeira vem e todos levantarão suas cabeças.
Mas eu fico pensando no que Sarah disse. Que "amar é ver alguém morrendo".

Então, quem me verá morrer?
Parece que eu estou vivendo um pesadelo sem você. Sinto que o perdi. Sei que sou culpada por pelo menos parte do que deve incomodá-lo, se não por tudo. É um desespero que vai e vem, como que para lembrar-me a toda hora que há algo muito errado em tudo isso. Parece que uma boa parte de mim foi embora com você sem a intenção de voltar. Fico olhando janela afora como se pudesse vê-lo voltando, sempre aquele sorriso no rosto, aquele sorriso despreocupado de outrora, que me tranquilizava. Nunca acontece, no entanto. A cada momento me sinto um pouco menos viva. E aí me recordo.
Levou uma parte minha. Meu coração.


Você vai me ver morrer?

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