Cada um escolhe por qual janela olhar

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

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Nunca dei presentes a ele, nunca recebi nada. Não conheci a letra dele, nunca o vi escrevendo. Não sei se sua caligrafia era redonda ou inclinada, legível ou feia, ou se ele colocava bolinhas em lugar dos pingos nas letras. Eu nunca disse que o amava nem o ouvi dizer isso para mim. Nunca falamos de amor, de filhos, de amantes, de passado. De futuro. (...) Foi assaltado alguma vez? Transou quando na verdade estava a fim de dormir e esquecer? Nunca soube se ele viajou de trem ou de navio. Se teve vontade de matar alguém que um dia amou. (...) Se alguma noite perdeu o sono por causa de dívidas. Se pensou em fugir. Se lembrava dos sonhos depois que acordava. Se sonhava. (...) Se sorriu para pessoas pensando em mandá-las à merda. (...) De gente que tem medo do escuro. E de quem sabe que temos escuros dentro da gente. Eu não soube nada disso. (...) E era bom. No entanto, eu sabia do seu medo. Por que ele precisava ficar sempre frio e diferente em tantos dias do meu lado, pra nao demostrar que queria ficar do meu lado... e a menina aqui queria o mundo e ele pra guardar em casa.

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