Cada um escolhe por qual janela olhar

segunda-feira, 28 de março de 2011

MarcelOOoo

Sobre você, devagar. Sobre seus olhos, movimento-me como as marés. Eu os admiro em câmera lenta como se na direção deles desprendesse os pés da pedra no salto final, num mergulho. Sobre você, devagar. O mundo não se resume mais nos quadris, mas onde quer que haja contato, onde quer que você me engula e eu engula você. Somos ondas, somos espuma. No dia que em que surgiu você, saltei para fora do silêncio. O sol pulverizou pedras. E o dia em que você está começa não com um sorriso, mas gargalhadas. É uma espécie de hino feito de aurora. Finalmente, depois de tanto tempo, entendo a palavra júbilo. Pássaro azul vezes mil, doce preferido vezes mil, beijo único, beijo primeiro. Beijo, sim, seus pés que a trouxeram até mim. Percorro, sim, minha boca por todas, todas mesmo, todas as partes de que é feita você. Assim, meus lábios não dizem o seu nome. Seu corpo tem um nome ainda a ser apreendido. Reconheço-me no seu relevo com a língua, sua alma é um sabor. Sobre você, devagar, como num sábado, quando não há pressa e não há vida lá fora. Você descobre-me movimentos que nem eu imaginava. Decifra em meu sorrir não os dentes, sempre mais para morder, mas um detalhe da face. No falar, não as palavras, mas uma sutileza nas pausas, que já se flagra a imitar, sem querer. Estar junto é estar meio igual. Sobre você, devagar. Como se o mundo fosse ter fim no próximo instante. Pressa pra quê? Deixe que o telefone toque. Deixe que alguém bata à porta. Deixe que as contas cheguem. Que os advogados me processem. Deixe que os vizinhos, sempre eles, reclamem do barulho. Deixe que o prédio pegue fogo e que a noite não caia e que o sol não nasça e que os relógios parem e que os animais comecem a falar. Deixe que a estupidez tome conta do planeta. Deixe que a mentira tome conta do planeta. Deixe que a indecência tome conta do planeta. Neste quarto, sobre você, devagar, contaminamos tudo o que nos cerca com sabedoria e verdade. Fui santificado ao aconchegar-me entre suas pernas. Sinto realmente luzes em torno da cabeça. Não sei onde estou, não sei mais de onde vim. Dispenso esses conhecimentos, que agora só resta um caminho em frente e corro para esses lados. Sou o último de uma espécie. Conheci coisas más e, de propósito, senti coisas más. Um bicho ruim eu sou. Mas alisa-me a cabeça e me doma como se faz às feras. Você mostra que, na constância, posso ser constante. E o óbvio passa a ser poesia. Sobre você, devagar, como se nunca fosse acabar. Isso, agora, foi só uma gota.
Dizem que o mar é infinito. Eu mesmo nunca vi o fim.'
Sabe que gosto desta sensação que te causo, de que a qualquer momento posso escoar, escorrer por entre os teus dedos tímidos e bá-bau - sumir da tua vida? Tua cara de pavor é a-pai-xo-nan-te! Especialmente apaixonante. Não é que eu ache que os relacionamentos devam ser compostos de neuroses e pânicos, só que é bom ver que você não vive mais sem mim. Não te deixo, jamais. Não sou tão forte assim. É que teus agrados são perigosos demais, são paredes e paredes que se levantam nesse labirinto de você que eu não consigo mais achar o fim, uma saída. Não há. Tuas palavras doces estão carregadas de correntes de amor. São também artifícios que me prendem, e me prendem, e me roubam o ar. Me fazem cada vez mais dependente de ti. Amoleço. Não posso mais escapar. E você devia era se orgulhar quando confesso que queria fugir de você, pra longe - e que até tentei, às vezes até tento - mas não consigo: há algo mais apaixonado que isso? Todas as correntezas deságuam ao teu lado. Sorria meu bem. Minha vida é todinha tua!'

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